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quarta-feira, dezembro 24, 2025

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Cientista político vê onda bolsonarista enfraquecida após condenação

No movimento insofrido das marés políticas, a vaga bolsonarista estaria perto de virar espuma. A metáfora expressa a visão do observador político Gabriel Rezende, que caracteriza o fenômeno político liderado nos últimos anos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro uma vez que “populismo de direita”. Em estudo histórica mais ampla, o Brasil teria vivido quatro ondas populistas, e a mais recente delas mostra sinais de extenuação.

Doutor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Gabriel lançará, no início de outubro, o livro A subida do populismo de direita no Brasil, pela Editora Appris. A obra trata o populismo uma vez que um fenômeno político e uma utensílio de representação, que emerge sempre em momentos de crise.

Em entrevista por telefone à Sucursal Brasil, o responsável defende que as crises política, econômica e social brasileiras, entre 2013 e 2016, formaram a “tempestade perfeita” para subida da vaga bolsonarista. Entre as características principais, esse novo populismo de direita teria se apresentado com um líder carismático medial, discursos que opõem “o povo” a uma “a escol da velha política”, narrativas nacionalistas e religiosas, e o uso estratégico das mídias sociais.

Nesse sentido, Gabriel Rezende entende que a tentativa fracassada de golpe de Estado pelo núcleo bolsonarista e o papel do Judiciário no enfrentamento das tendências autoritárias colocam o populismo de direita em rota decrescente.

 

Gabriel Rezende, observador político, lança livro sobre populismo de direita. Gabriel Rezende/Registro Pessoal

Confira a entrevista

Sucursal Brasil: Poderia falar, em linhas gerais, o que motivou a pesquisar o “populismo de direita” e uma vez que o tema é abordado no livro que está prestes a lançar?

Gabriel Rezende: O livro é fruto da minha tese de doutorado. O que despertou a minha curiosidade foi perceber a emergência de líderes populistas pelo mundo. Primeiro, em 2016, com Donald Trump, nos Estados Unidos; Kaczyński, na Polônia; Beppe Grillo, na Itália; Viktor Orbán, na Hungria; e Jair Bolsonaro, no Brasil. Isso me mostrou a premência de estudar o fenômeno.

Busquei identificar, no meu livro, quais foram os fatores estruturais para a subida desse tipo de populismo no Brasil, entre 2016 e 2022. A partir daí, compreendi o bolsonarismo uma vez que movimento político. E que o Brasil sempre viveu ondas populistas.

A primeira vaga populista foi da dezena de 30 até a dezena de 60; a segunda vaga populista, nos anos 90, a chamada vaga populista neoliberal, com o Fernando Collor uma vez que protagonista; a terceira vaga, que foi a rosa, o populismo de esquerda, que, além do Brasil, também se fez presente na América Latina com Evo Morales [Bolívia], Chávez [Venezuela] e Kirchner [Argentina]; e a quarta, que estamos vivendo agora, paralela à vaga populista de direita que também acontece na Europa e nos Estados Unidos.

Sucursal Brasil: Populismo é um termo com muitos sentidos, disputado por diferentes teóricos e movimentos políticos. Pode ser visto uma vez que pejorativo ou fenômeno positivo de inclusão maior das demandas populares. Porquê você caracteriza esse concepção na sua obra?

Gabriel Rezende: Não entendo o populismo uma vez que ideologia ou regime político, uma vez que não pode ser atribuído a ele um teor programático específico. Ele regimenta um conjunto de questões ideológicas dentro de um meio.

Ele é um fenômeno político que sempre surge em processos de crise da democracia. Também pode ser visto uma vez que uma utensílio de política de representação, seja da direita ou da esquerda. Para ser caracterizado assim, precisa de alguns elementos.

Primeiro, uma figura medial, um líder carismático que vai amalgamar todas as insatisfações sociais. E, quando ele faz isso, se fundíbulo a partir do antagonismo, da diferenciação entre “nós” e o “outro”, ou melhor, entre o povo e a escol. Ou seja, ele trabalha numa ordem dicotômica. Ele procura fazer uma realce entre o povo, que é a tamanho, e aqueles que dominam essas massas. No populismo de direita, por exemplo, o inimigo pode ser o imigrante, os membros da classe política. Bolsonaro usou muito essa retórica sobre a velha política e a novidade política.

Sucursal Brasil: Quais seriam as diferenças entre os populismos de direita e os de esquerda?

Gabriel Rezende: No caso do populismo de direita, se trabalha muito a narrativa pátrio nativista, por exemplo, caso do Trump com o lema Make America Great Again [Faça a América grande de novo, em inglês]. Essa teoria de América fortalecida. O segundo elemento muito generalidade é a religião. No caso do Brasil, nós somos uma região mais de 60% cristã. Logo, o populismo usa a narrativa conservadora e moral.

No caso do Brasil, em 2018, a direita conseguiu mobilizar isso, porque quem estava no poder até logo era um partido de esquerda, o PT. E a direita batia muito nessa questão antissistema.

Já o populismo de esquerda é dissemelhante. Ele procura uma ampliação das lacunas da vida social, por exemplo, questões mais progressistas em relação aos direitos das minorias. Ele procura amalgamar essas pessoas à margem e o oração vai ser um elemento aglutinador delas.

As pautas vão ser voltadas para a democracia, para questões de liberdade moral. Por exemplo, a grande sátira do populismo de direita no Brasil foram questões liberais em relação à população LGBT, ao monstruosidade, etc.

Sucursal Brasil: Quais particularidades envolvem o populismo de direita protagonizado pelo bolsonarismo?

Gabriel Rezende: Bolsonaro foi eleito porque conseguiu mobilizar cinco elementos. Primeiro, a questão do lavajatismo. Lembrando que o próprio Sérgio Moro foi ministro no governo dele. Bolsonaro vai na esteira da questão moral e moral na política.

O segundo pilar estrutural foi a questão dos evangélicos. Apesar de se manifestar católico, ele foi muito manipresto em mourejar com essas lideranças religiosas por meio do oração, com o próprio, “Brasil supra de tudo, Deus supra de todos”. E os evangélicos conseguem mobilizar um eleitorado muito significativo.

O terceiro elemento é o agronegócio, setor que mais cresce no Brasil, que abrange uma fatia expressiva do PIB. O agronegócio, de roupa, abraçou a campanha do Bolsonaro por várias questões. Para referir um exemplo, o respaldo em relação à invasão de terras. O governo tinha a Teresa Cristina no Ministério da Lavoura, uma figura importante do agronegócio.

Outro elemento importante são as mídias digitais. O bolsonarismo foi muito habilidoso nas redes sociais, com uma série de representantes que ajudaram muito na mobilização das pautas e do eleitorado.

E o último elemento é a aproximação com os militares, uma vez que forma de moralizar a política. Eles, inclusive, fizeram segmento dos escalões da Esplanada dos Ministérios e estão envolvidos nessa pena recente por golpe de Estado.

 

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em frente ao hospital onde ele se internou em 14 de setembro Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Sucursal Brasil

Sucursal Brasil: E uma vez que você analisa o Judiciário nesse contexto de atuação do populismo de direita. Vimos alguns juízes do Supremo serem caracterizados pelos bolsonaristas uma vez que inimigos dos seus interesses.

Gabriel Rezende: O STF, no caso do Brasil, cumpre papel de guardião da Constituição, segundo estabelecido em 1988. Nos últimos anos, o Poder Judiciário foi crescendo por receber demandas que eram próprias do Executivo ou do Legislativo, mas que estes não conseguiam responder. Logo, muitos processos foram judicializados. Na minha visão, o que se vê é um Judiciário responsivo, que é levado a se posicionar diante de demandas muito complexas.

A preocupação por segmento do populismo de direita é tentar mitigar o poder do judiciário, porque ele foi o único no Brasil que conseguiu se contrapor ao governo de Bolsonaro. E que atuou, com muitas aspas, uma vez que poder moderativo.

Temos as questões recentes de projetos de anistia e a PEC da Blindagem, que foram respostas desse bolsonarismo ao julgamento da Primeira Turma do STF aos acusados por tentativa de golpe de Estado. São respostas da extrema direita para tentar mostrar que eles têm poder para medir com o Judiciário.

Só que o efeito foi contrário. O que aconteceu foi que a PEC da Blindagem não foi muito recebida socialmente. A PEC é um vazio argumentativo, porque vai contra o que esses próprios congressistas pregavam quando foram eleitos. A taxa da moral, da lei e da ordem.

Sucursal Brasil: Você falou em ondas populistas, o que significa que elas têm movimentos de início e término. O que podemos esperar a partir de agora em relação a esse populismo de direita? É verosímil projetar se ele está mais próximo de um extenuação ou de um fortalecimento?

Gabriel Rezende: Por qualquer tempo, nossas instituições não foram muito hábeis para mourejar com esse movimento de extrema direita dominador. Por exemplo, a Procuradoria-Universal da República não conseguiu ou não quis levar à frente questões em relação ao governo Bolsonaro. O Judiciário foi quem mais atuou nesse sentido.

Com a pena dele recentemente, há um extenuação no sentido político. Apoiadores fiéis a ele perdem uma base, uma referência mais concreta. A proibição de ele dar entrevista enfraquece muito. Imagine um populismo de direita em que a principal figura não pode falar.

Temos visto outras pessoas querendo assumir essa posição. O [pastor Silas] Malafaia, a Michelle Bolsonaro [ex-primeira dama], os filhos dele, o Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo]. Abre-se um flanco muito grande de quem vai disputar o legado desse populismo. Nesse sentido, podemos falar que existe um extenuação do populismo. Estão mensurando o quanto a imagem do bolsonarismo está danificada e se é verosímil um rearranjo em relação à figura política principal.

Ao mesmo tempo, o [presidente] Lula não conseguiu ainda edificar uma sucessão, uma outra figura que assuma o seu legado. Quem será o candidato que vai conseguir amalgamar todos esses princípios em relação à esquerda, caso o próprio Lula não possa ou não queira se reeleger?

O momento é de rearranjo político. Na política, uma semana é um mundo. Podem suceder milénio coisas antes da eleição de 2026.

Manancial: Sucursal Brasil

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