O estilo de vida dos super-ricos está esgotando o orçamento de carbono restante do planeta — a quantidade de CO₂ que pode ser emitida sem ocasionar um sinistro climatológico. Uma pessoa pertencente ao 0,1% mais rico da população mundial emite mais de 800 kg de CO₂ por dia, enquanto alguém dos 50% mais pobres da população mundial emite, em média, somente 2 kg de CO₂ por dia.
Os dados estão no relatório “Saque Climatológico: Uma vez que uma minoria poderosa está condenando o mundo ao sinistro”, divulgado pela Oxfam às vésperas da COP30, a principal conferência internacional sobre o clima, em Belém (PA).
Segundo o levantamento, uma pessoa pertencente ao 0,1% mais rico da população produz mais emissões de carbono em um único dia do que os 50% mais pobres emitem durante todo o ano. Se todos emitissem porquê o 0,1% mais rico, o orçamento de carbono se esgotaria em menos de três semanas.
“A crise climática é uma crise de desigualdade. Os indivíduos mais ricos do mundo estão financiando e lucrando com a ruína climática, deixando a maioria global arcar com as consequências fatais de seu poder desregrado”, disse Amitabh Behar, Diretor Executivo da Oxfam Internacional.
O bilionário médio produz 1,9 milhão de toneladas de CO₂ por ano por meio de seus investimentos — quase 60% deles são classificados porquê pertencentes a setores de eminente impacto climatológico, porquê petróleo ou mineração, o que significa que seus investimentos emitem duas vezes e meia mais carbono do que um investimento médio no índice S&P Global 1200. As emissões das carteiras de investimento de somente 308 bilionários totalizam mais do que as emissões combinadas de 118 países.
A Oxfam também alerta para a influência de grandes corporações na formulação de políticas, enfraquecendo as negociações climáticas. Na COP29, 1.773 lobistas do setor de carvão, petróleo e gás receberam credenciais, mais do que os dez países mais vulneráveis às mudanças climáticas juntos, segundo a entidade.
“Precisamos romper o domínio dos super-ricos sobre as políticas climáticas, tributando suas fortunas exorbitantes, proibindo suas atividades de lobby e, em vez disso, colocando os mais afetados pela crise climática no núcleo das decisões climáticas”, disse Behar.
As emissões do 1% mais rico da população são suficientes para ocasionar tapume de 1,3 milhão de mortes relacionadas ao calor até o final do século, além de prejuízos econômicos de US$ 44 trilhões (R$ 235,7 trilhões, na conversão direta) para países de baixa e média-baixa renda até 2050.
Os impactos desses danos climáticos afetarão desproporcionalmente aqueles que menos contribuíram para a crise climática, particularmente as pessoas que vivem no Sul Global, mulheres, meninas e povos indígenas.
A COP30 marca dez anos desde o Harmonia de Paris, realizado em 2015. Durante esse período, o 1% mais rico da população mundial consumiu mais do que o duplo do orçamento de carbono em confrontação com a metade mais pobre da humanidade combinada.
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O que defende a Oxfam para a COP30
- Reduzir drasticamente as emissões dos super-ricos e fazer com que os maiores poluidores paguem, por meio da tributação da riqueza extrema, impostos sobre os lucros excessivos das empresas de combustíveis fósseis e pedestal à Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre Cooperação Tributária Internacional. Um imposto de 60% sobre a renda totalidade do 1% mais rico do mundo poderia reduzir as emissões de carbono em um valor equivalente às emissões totais do Reino Unificado e gerar tapume de US$ 6,4 trilhões (R$ 34,2 trilhões);
- Limitar a influência econômica e política dos mais ricos, proibindo as empresas de combustíveis fósseis de participarem de negociações climáticas porquê a COP, implementando regulamentações de sustentabilidade para empresas e instituições financeiras e rejeitando acordos comerciais e de investimento, porquê os mecanismos de solução de controvérsias entre investidores e Estados (ISDS, na {sigla} em inglês);
- Fortalecer a participação da sociedade social e dos grupos indígenas nas negociações climáticas e abordar os impactos desiguais das mudanças climáticas;
- Adotar uma abordagem de partilha justa do orçamento climatológico remanescente, comprometendo-se com contribuições nacionalmente determinadas (NDCs, na {sigla} em inglês) que reflitam a responsabilidade histórica e a capacidade de agir, e garantindo que os países ricos forneçam financiamento climatológico cobiçoso;
- Edificar sistema econômico igualitário que priorize as pessoas e o planeta, rejeitando as políticas econômicas neoliberais dominantes e caminhando rumo a uma economia baseada na sustentabilidade e na paridade.
Nascente: Olhar Do dedo
