Um constituído bioativo produzido por uma bactéria foi desvelado na Antártida por pesquisadores do Instituto Antártico Chileno. Esse constituído tem propriedades com grande potencial de uso na produção de mantimentos, cosméticos, medicamentos e até materiais biodegradáveis.
O projeto contou com suporte da FAPESP por meio do Núcleo de Pesquisa em Provisões (FoRC), um Núcleo de Pesquisa, Inovação e Disseminação (CEPID) sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), segundo transmitido da instauração.
Microrganismo vive em regiões extremas, se tornando mais resistente
O Bacillus licheniformis foi encontrado na Ilhota Decepción, região caracterizada uma vez que um ecossistema “poliextremo”, com temperaturas muito altas ou muito baixas, variações de pH e possante radiação ultravioleta.
São essas as características que fazem os microrganismos na região tão interessantes, já que desenvolvem “habilidades metabólicas e fisiológicas especiais”.
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Os pesquisadores explicaram que entre as adaptações, “a produção de exopolissacarídeos”, açúcar excretado por bactérias, fungos, leveduras e algas, desempenha um “papel crucial na proteção contra os estresses provocados por um ecossistema extremo”.
São essas substâncias que protegem as células dos microrganismos contra desidratação, pressão osmótica, substâncias tóxicas e ataques de vírus, além de tornar a informação entre as células mais eficiente.
“Por isso, isolamos uma cepa do Bacillus licheniformis encontrada em chuva fumarólica [líquido presente em uma lhaneza na crosta terrestre de onde são liberados vapor d’chuva, gases e minerais provenientes de atividade vulcânica que, apesar de estar na Antártida, chega a temperaturas superiores a 100 °C, e fizemos a estudo do seu genoma”, explica o professor João Paulo Fabi, do Departamento de Provisões e Nutrição Experimental da FCF-USP, e um dos autores do estudo.
Subida resistência e aplicações biotecnológicas
Com o sequenciamento do genoma, os pesquisadores identificaram os genes relacionados à biossíntese desses açúcares, e observaram “boa resistência à radiação ultravioleta e adaptação térmica”. Já suas propriedades funcionais se mostraram superiores às da goma xantana mercantil, também produzida por uma bactéria, e empregada uma vez que espessante, estabilizante e emulsificante em diversas indústrias.
Isso torna o Bacillus licheniformis “um possante candidato para aplicações biotecnológicas que exigem firmeza e bioatividade”, acredita Fabi, oferecendo:
- Proteção antioxidante;
- Maior vida útil para produtos;
- Segurança de emulsão;
- Melhor textura em mantimentos funcionais.
Sua firmeza térmica e tolerância a pH extremo também o tornam promissor para cosméticos, produtos farmacêuticos e materiais biodegradáveis em diversas outras áreas.
João Paulo Fabi, do Departamento de Provisões e Nutrição Experimental da FCF-USP, em nota da FAPESP.
Nascente: Olhar Do dedo