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quarta-feira, dezembro 24, 2025

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Especialistas defendem atenção específica para saúde da pele negra

O médico Thales de Oliveira Rios conta que tinha problemas com oleosidade da pele e acne desde a juventude. Ao longo dos anos, tentou vários tratamentos, mas não obteve resultado satisfatório e se incomodava muito com as manchas decorrentes das espinhas. Depois de receber um invitação privativo de um colega dermatologista, o desfecho foi outro:

“Um belo dia, eu resolvi ir ao consultório dele, e a coisa mudou da chuva para o vinho. Com o tratamento voltado para o meu tipo de pele, os produtos adequados para clarear, o protetor solar manifesto, em três, quatro meses ficou tudo dissemelhante. Melhorou bastante.”

Thales é um varão preto e, até logo, não fazia teoria de que os tratamentos para a sua pele precisavam considerar essa particularidade uma vez que ponto de partida.

“Eu lembro até hoje da primeira consulta, quando ele me mostrou umas imagens de um livro que ele ajudou a ortografar, que mostra, por exemplo, a apresentação de certas lesões de pele. Numa pessoa branca, é de um jeito, numa pessoa parda, é de outro, e, numa pessoa de pele preta retinta, é totalmente dissemelhante. A gente não vê isso na faculdade de medicina. Isso está começando a entrar nas discussões do mundo acadêmico há pouquíssimo tempo”, ele acrescenta.

O colega citado é Cauê Cedar, director do Ambulatório de Pele Negra do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Desde a especialização, Cedar estuda as demandas específicas das pessoas pretas e pardas, que, destaca, são a maioria da população brasileira. Mas os padrões acadêmicos não o ajudavam.

“Os materiais que educam os médicos são majoritariamente feitos com pessoas de pele clara. Logo, muitos médicos não têm um treinamento específico para identificar uma vez que as condições podem se apresentar na pele negra”.

“E tem algumas especificidades. A pele negra tem mais tendência a manchas, a cicatrização hipertrófica, ou seja, fazer queloide… Tem os cuidados específicos com os cabelos cacheados e crespos. Tudo isso precisa ser treinado. Durante a residência, eu não tive um treinamento específico sobre isso, por mais que fosse uma tarifa minha, eu precisava buscar por fora”, conta Cedar.

A indústria de produtos dermatológicos também desmerecia esse público, segundo o perito. “Há muito tempo, a gente sabe da premência de passar protetor solar. Mas os protetores solares com cor nunca se adequavam às tonalidades de pele negra, e os protetores sem cor deixavam a pele das pessoas negras com um fundo esbranquiçado, acinzentado…. Isso diminuía a adesão ao uso. Até que a indústria começou a ver que os negros também consomem e começaram a desenvolver produtos adaptados à volubilidade da população”, ele exemplifica.

Avanços

Cedar e outros profissionais negros têm ajudado essa tarifa a se firmar também no meio acadêmico. Leste ano, pela primeira vez, o Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, principal evento da especialidade, realizou uma atividade exclusivamente sobre os cuidados com a pele negra. Aliás, a regional do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Dermatologia acaba de fabricar um Departamento de Pele Étnica, do qual Cauê Cedar é um dos coordenadores.

De convenção com a presidente da regional, Regina Schechtman, “estava mais do que na hora”. Ela destaca que o departamento visa a melhorar o conhecimento dos profissionais e o atendimento prestado a pessoas de diversos grupos não-brancos, uma vez que indígenas e orientais, além das pessoas negras.

“Qualquer médico ou profissional da extensão de saúde deve alongar esse conhecimento a sua prática. A dermatoscopia, por exemplo, que é o examinação mais fundamental que a gente faz, é totalmente dissemelhante em cada tom de pele, e os médicos precisam saber interpretar”, acrescenta.

A presidente da regional do Rio de Janeiro enfatiza que problemas de pele podem afetar muito a autoestima dos pacientes e que o maior órgão do corpo humano também pode trazer alguns perigos.

“Há muitas doenças de pele, e a mais grave delas é o cancro, que também atinge a população negra. Apesar do risco ser maior entre pessoas que têm menos pigmentação, isso não quer manifestar que as pessoas negras não precisam se proteger dos danos causados pela radiação ultravioleta”.

Manancial: Dependência Brasil

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