Conhecidos por sua perceptibilidade e perspicácia, os polvos nem sempre foram vistos assim. Há mais de 2 milénio anos, o filósofo helênico Aristóteles acreditava que esses animais eram idiotas. Porém, o desenvolvimento da ciência provou o contrário.
“O polvo é uma pessoa estúpida, pois se aproxima da mão de um varão se for mergulhada na chuva”, declarou o pensador em sua obra História dos Animais, escrita no século IV a.C.
Para o filósofo, o polvo tinha vida curta e uma curiosa tendência a se dissolver em líquido. Aristóteles acreditava que, ao ser vencido e espremido, o bicho perderia sua substância até vanescer por completo.
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“A fêmea, depois [de botar os ovos], está particularmente sujeita a isso […], torna-se estúpida; se sacudida pelas ondas, submete-se impassivelmente; um varão, se mergulhasse, poderia pegá-la com a mão; ela se cobre de lodo e não faz nenhum esforço para conquistar sua presa habitual”, escreveu o pensador.
As ideias aristotélicas sobre o polvo prosseguiram por séculos. Elas foram repetidas muro de 400 anos depois por Plínio, o naturalista romano responsável de História Proveniente, mas com ressalvas: “embora [seja] considerado um bicho estúpido em outros aspectos […] ele tem um manifesto tipo de sentido em sua economia doméstica”.
Polvos são mais inteligentes do que pensava o filósofo
Para a ciência moderna, os argumentos de Aristóteles apresentam um problema. O impulso de um polvo em investigar uma mão humana é visto porquê curiosidade, não mais porquê estupidez.
“Os polvos atendem a todos os critérios para a definição de perceptibilidade”, escreveu Lisa Poncet, bióloga do Laboratório de Etologia Bicho e Humana (EthoS) da Universidade de Caen Normandie, em um item de 2021 no portal The Conversation.
Segundo a pesquisadora, esses animais tem grande flexibilidade para obter e processar informações. Através dos sentidos e relações sociais, eles aprendem e guardam esses saberes em sua memória de longo prazo. Esses conhecimentos são aplicados tanto para evitar predadores quanto para caçar presas.
Um das formas da perceptibilidade dos polvos se manifestar é na curiosidade por entender um corpo dissemelhante em seu envolvente. “[Eles] passarão o tempo capturando mãos, redes ou qualquer outro objeto introduzido em seu aquário. A partir daí, cabe a eles determinar quando soltar a sua conquista”, concluiu Poncet.
O que Aristóteles via porquê estupidez hoje é reconhecido porquê perceptibilidade. Com memória e tirocínio complexos, os polvos intrigam pesquisadores ao volta do orbe. De tolos a gênios dos mares, esses animais tornaram-se símbolo da curiosidade que dá robustez a verdadeiros gênios.
Manadeira: Olhar Do dedo
